O Conselho Federal de Psicologia (CFP) divulgou, nesta sexta-feira (8), as práticas e manifestações artísticas selecionadas para a etapa nacional da I Mostra de Práticas Profissionais na Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). Este projeto busca valorizar ações inovadoras e expressões artísticas de todo o Brasil, comprometidas com o cuidado em liberdade e os direitos humanos na saúde mental.
Ao todo, foram inscritas 178 práticas de psicólogas/os de todo o país. A comissão apontou 27 trabalhos a mostra nacional. Cada uma das cinco regiões brasileiras está representada, com destaque para a diversidade das práticas apresentadas. No Norte e no Nordeste, duas práticas de cada região foram selecionadas, enquanto nas demais, apenas uma prática foi escolhida.
Sergipe está entre os selecionados com o trabalho intitulado “Da solidão à comunhão: um grupo de ouvidores em diálogo”, desenvolvido pelo psicólogo Kauan de Freitas Teixeira (CRP 19 – SE). Esta prática, conduzida no CAPS Infantojuvenil, explora a experiência de criar um grupo terapêutico para adolescentes que ouvem vozes, promovendo um espaço seguro para o compartilhamento e desenvolvimento de estratégias de enfrentamento
Práticas selecionadas
As sete práticas foram selecionadas como destaque nacional, representando as cinco regiões brasileiras foram ‘Companhia Atravessa a Porta: cuidado, criação artística e cultura antimanicomial’ (CRP 01 – DF/Região Centro-Oeste); ‘Kilombinho: uma prática afrorreferenciada em um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) Infantojuvenil’ (CRP 06 – SP/ Região Sudeste); ‘A experiência de Enloucrescer e a atuação da Psicologia nas ações de reabilitação psicossocial em Blumenau/SC’ (CRP 12 – SC/ Região Sul); ‘Iluminarte: a arte que ilumina a vida, a vida que ilumina a arte!’ (CRP 17 – RN/ Região Nordeste) e ‘Da solidão à comunhão: um grupo de ouvidores em diálogo (CRP 19 – SE/ Região Nordeste); ‘Caps fluvial de Abaetetuba: uma proposta de saúde mental no território das águas’ (CRP 10 – PA/ Região Norte) e ‘A Psicologia na Central Integrada de Alternativas Penais do Amazonas (CIAPA): na promoção do acesso ao cuidado em liberdade (CRP 20 – AM/ Região Norte).
Prática Sergipe: A experiência do psicólogo Kauan Teixeira
O trabalho de Kauan de Freitas Teixeira, apresentado na I Mostra RAPS, aborda a experiência profissional no CAPS Infanto Juvenil e a criação de um grupo terapêutico para adolescentes que ouvem vozes. Este grupo oferece um espaço seguro para o compartilhamento e desenvolvimento de estratégias de enfrentamento. A metodologia envolve encontros estruturados com dinâmicas de acolhimento, exploração das vozes e técnicas práticas como grounding e expressão criativa. A articulação com a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) permite suporte integral através de acompanhamento clínico e reuniões com familiares, favorecendo a adaptação das estratégias clínicas e socioeducativas.
A experiência do autor começou com a residência em um CAPS III Adulto, observando a importância dos grupos de Ouvidores de Vozes para adultos. Identificou-se, então, uma lacuna no atendimento a adolescentes com experiências auditivas específicas. O grupo criado no CAPS Infanto Juvenil teve como foco criar um ambiente validado no qual os adolescentes pudessem compartilhar suas experiências sem estigmatização.
Os encontros promovem acolhimento progressivo, estabelecendo confiança e regras de convivência. Discussões estruturadas sobre as vozes ajudam no desenvolvimento de estratégias de enfrentamento. Técnicas como exercícios respiratórios e práticas expressivas foram integradas, promovendo maior estabilidade emocional e clareza na expressão de experiências.
A integração com a RAPS e a abordagem intersetorial possibilitaram planos terapêuticos coerentes com as necessidades individuais, melhorando a comunicação e interação familiar. A intervenção também impactou positivamente nas atividades cotidianas e educacionais dos participantes, reforçando a importância de uma abordagem ampliada que considera o contexto social e relacional dos adolescentes.
A metodologia fundamenta-se na psicologia comunitária e em grupos de Ouvidores de Vozes, priorizando a escuta ativa e a co-construção de estratégias adaptativas. O espaço criado permite expressão livre e fortalecimento de autoestima e enfrentamento, demonstrando eficácia na redução do impacto negativo das vozes.
Manifestações artístico-culturais
A Mostra também reconhece a potência das expressões artísticas produzidas por usuárias e usuários da RAPS. Das 68 inscrições recebidas, foram pré-selecionadas 10 obras com base em critérios como criatividade, originalidade, impacto visual e adequação ao tema.
As três manifestações mais votadas pelo público vão compor a publicação dos Anais da Mostra:
1º Lugar – “Dois Amantes”, Yasmin Oliveira (Três Lagoas – MS), com 42,6% dos votos.
2º Lugar – Sem título, Renielson Alves (Pesqueira – PE), com 13,3% dos votos.
3º Lugar– “Livre pra ser diferente”, Rafaela França, Santa Rita do Trivelato – MT, com 11,2% dos votos.
A cerimônia de premiação das práticas vencedoras e manifestações artísticas ocorrerá no dia 4 de setembro de 2025, durante o 23º Encontro Nacional da Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO), em Manaus (AM).