23 de setembro de 2021
No formato híbrido, Congresso de Psicologia promove debates sobre polarização, realidade digital e novos territórios
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O Conselho Regional de Psicologia iniciou nesta quarta-feira, 22, as discussões do 4º Congresso Sergipano de Psicologia. Com o tema ‘Discussões para o  futuro da profissão’, o  evento na modalidade híbrida acontece no auditório da Uninassau, em Aracaju, com transmissão simultânea nas redes sociais do CRP19, de forma inclusiva com  para a comunidade surda.

“É com imensa satisfação que o CRP19  realiza esse evento. Estamos precisando de mais informações, mais  debates e conteúdos e nada mais importante do que esse momento para falar da Psicologia em tempos de pandemia”, disse o psicólogo Naldson Melo Santos, Conselheiro Presidente do CRP19, na abertura do evento.

“Quando a gente fala de polarização, das diferenças, das desigualdades, das dificuldades que enfrentamos neste momento em consequência de uma pandemia, também pensamos em mudanças e oportunidades. Que esse evento seja de muito conhecimento, troca de informação, de produção, que isso é que faz a diferença na sociedade”, completou  Cilene Andrade, Diretora Uninassau.

O Conselheiro Secretário André Luiz Mandarino Borges, coordenador do evento, foi enfático em dizer que o congresso deste ano, na modalidade híbrida  é também  uma forma de resistência.

“É preciso  e nós desejamos retornar. É uma necessidade diante da vida, é um tributo que prestamos àqueles que gostariam de estar aqui e infelizmente não podem mais. Precisamos reafirmar nossas lutas,  as lutas da profissão, as que estabelecemos por mudanças positivas na sociedade nas quais a psicologia tem se envolvido historicamente. Precisamos continuar, e continuaremos. A academia e o Sistema Conselhos se comprometem com isso. A proposta da  temática ‘Diálogos para o futuro da Psicologia’, é uma provocação para a reflexão sobre o que vamos levar para o futuro da nossa profissão, qual a psicologia que queremos. Antes isso era uma pergunta um tanto quanto retórica, mas agora não. Nós temos grandes posicionamentos a tomar. Estamos sendo convidados a pensar sobre isso nesse congresso”, ressaltou.

Na primeira conferência, mediada pelo Conselheiro Fernando Antônio Nascimento da Silva, coordenador da Comissão de Direitos Humanos,   a psicóloga Sandra Raquel Santos de Oliveira (CRP19/1310), abordou  ‘Ser psicóloga(o) em tempos de polarizações’. Apresentou ensaios produzidos por analistas políticos que compararam os movimentos na política polarizada entre Brasil e Estados Unidos entre 2009 e 2016. E citou Paulo Arantes que propõe um mapeamento sobre a polarização.  

“Entre os questionamentos do pensador é se há, no Brasil, campos simétricos  de polarização. O que essa categoria específica, polarização explica na política brasileira? Uma sensação? Essa ideia de sensação de polarização produz o que chamam de processos cismogênicos, que é o modo pelo qual grupos respondem às ações uns dos outros que consolidam a identidade de cada um deles", ressaltou.

Sandra Raquel pontua ainda sobre como e por que se formou o discurso da polarização? Como se fortaleceu?

“Nesse cenário, houve a redução do debate político que passou para debate moral, de costumes, quando o centro de todo o debate político é uma proposta econômica. Nós temos que perguntar quem está ganhando com a noção de polarização, se por fundamento deve ser assimétrica.  Outro ponto é: aparecem os  missionários, com discurso moderado, pregando solução dos do problema, que é o tal do centro político, que é um muro, não tem posição. O fato é que nós não precisamos de salvação, precisamos de um debate político qualificado”, finalizou.

‘Realidade digital e novos territórios’ foi o segundo tema de discussão em três diferentes abordagens. ‘Pandemia, isolamento e vida na rede digital’ foi a temática do Conselheiro Secretário André Luiz Mandarino Borges (CRP19/00565).

“Estamos diante de cenários que não são novos. Em termos de história, já tivemos outras pandemias, outros tempos semelhantes a esse que estamos vivendo. Precisamos recorrer a história para não repetir os mesmos erros, para fazer uma leitura desse nosso momento, entender o que queremos para o futuro, para não cairmos nos mesmos erros que cometemos na pandemia da febre espanhola no início do século XX,  para não cairmos nos mesmos erros que cometemos com a ascensão do fascismo, na primeira metade do século XX. A história nos mostra o que aconteceu e a história nos mostra o que está acontecendo, o que estamos vivendo. Podemos fazer uma leitura do antes, para entender o hoje e desenhar o futuro que desejamos”, disse Mandarino.

O psicólogo Jameson Thiago Farias Silva (CRP19/3311), Professor Doutorando em Estudos Linguísticos (PPGL-UFS), fez uma análise sobre ‘Capturas e possibilidades nos algoritmos”

“Faço um convite inicial para recusarmos pensar a internet como instrumento ou um lugar. A minha proposta é pensar como a dinâmica da linguagem, uma dinâmica linguística, do mesmo jeito que a escrita trouxe traz uma nova dinâmica linguística em relação a fala, mentalidades, afetos, modos de socialização possibilitados que não existiam nas comunidades orais. Do mesmo modo que a  escrita proporcionou um salto de linguagem em relação à fala, a proposta agora é a internet como um salto de linguagem em relação à escrita”, sugeriu.

‘Práticas profissionais online’ foi o conteúdo apresentado pela psicóloga Ingrid Vieira Guimarães Ferreri (CRP19/0750) que chamou a atenção para as práticas excludentes.

“O acesso à internet é tão  amplamente difundido como a gente imagina. Todo mundo tem um celular, mas isso não significa acesso. Hoje, no Brasil tem mais aparelhos conectados do que pessoas. Esse é um dado muito importante para que possamos perceber quem são as pessoas e os grupos que acessam os profissionais de Psicologia através das tecnologias de informação e comunicação. E como as  psicólogas e psicólogas se voltam para essas pessoas, para encontrá-las, para entrar em contato. De uma forma acabamos fazendo o mesmo movimento que a própria prática clínica, historicamente, se desenhou na história da Psicologia, excludente, elitista, dentro de quatro paredes. Então, gostaria de deixar essa questão para pensarmos sobre o que queremos para o futuro da profissão”,  afirmou.

 

Assista em www.youtube.com/watch?v=ByKwg9rSJhc&t=9141s

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