O Conselho Regional de Psicologia de Sergipe, por meio do Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP), e o Conselho Federal de Psicologia (CFP), com apoio da Universidade Federal de Sergipe (UFS), realizou nos dias 17 e 18 de novembro de 2023, edição sergipana do ‘Seminário Regional do CREPOP: Interlocuções entre psicologia, política e instituições de ensino’.
O evento foi uma solicitação da rede CREPOP, que congrega todos os centros de pesquisa do Sistema Conselhos de Psicologia para a produção de orientação técnica voltada às políticas públicas.
“A rede apresentou a demanda de ativar todas as relações com instituições de ensino superior além de criar novas com as que ainda não existem. O intuito é intensificar esse movimento de conhecerem a rede CREPOP, sua metodologia de trabalho, que consta de um movimento de acolher, conhecer, ouvir as profissionais da psicologia que atuam nas políticas públicas brasileiras. A partir do acolhimento dessas pautas pesquisadas são produzidas referências técnicas para atuação”, explicou Lidiane Drapala (CRP19/1664), psicóloga social e pesquisadora do CREPOP/CRP19.
Em análise, Drapala pontua que há ainda uma defasagem das grades curriculares no que se refere a aplicabilidade das normativas que visam integrar a maior parte população brasileira vulnerabilizada em seus direitos sociais constitucionais, ou seja, saúde, assistência social, educação, entre outros tantos.
“O CREPOP vem nesse movimento de amparar e orientar mais qualificadamente, e realisticamente, a categoria profissional. Na graduação há oportunidade de se seguir os preceitos do tripé da formação, ou seja, ensino, pesquisa e extensão e nós temos o interesse de que as referências do CREPOP sejam utilizadas, que as metodologias possam ser inspiração para o trabalho, tanto quanto demais articulações”.
“(re)construir a psicologia, que história estamos traçando?”, não por acaso, foi o subtítulo proposto para o seminário em Sergipe após análise conjunta – Conselheiro, técnica, Plenário, Comissões de Políticas Públicas e de Direitos Humanos. Desde 2005, grupos de atuação no CREPOP já produziram mais de 30 referências, revisadas e publicadas, outras estão em vias de conclusão para lançamento.
“A graduação faz um direcionamento das e dos estudantes para o que poderia ser a psicologia e, muitas vezes, não se atenta de que as políticas públicas são os principais, e, em muitos casos, os primeiros postos de trabalho. Temos profissionais da psicologia que ao se depararem com essa realidade retorna ao CRP19 e percebe a relevância e importância do CREPOP na sua formação”, ressalta Lidiane.
Ecos do Seminário
O ‘Seminário Regional do CREPOP: Interlocuções entre psicologia, política e instituições de ensino’ contou com a participação de estudantes, professoras(es), pesquisadoras(es) e representantes de seis Instituições de Ensino Superior ativas no estado – Universidade Federal de Sergipe/UFS (IES pública) e as privadas, Estácio, Unit, Pio Décimo, UniNassau e Fama.
A programação apresentou palestrantes externos como Nita Tuxá, conselheira do CFP, professora, pesquisadora, ativista para direitos da população e povos originários no Brasil, que trouxe reflexões epistemológicas, inclusive acerca da compreensão sobre a cultura em interface com a psicologia além dos vieses antropológico e sociológico e psicológico. Perpassando a composição de entendimento sobre como a atuação da profissional de psicologia poderia contribuir para a prática e promoção do bem viver – essa é uma grande aposta dos povos originários e, vai muito além de “apenas” compreender a saúde mental.
Já o Deivison Miranda, ex-colaborador na Comissão de Direitos Humanos, do Conselho Federal de Psicologia (CFP), pesquisador, psicoterapeuta e supervisor clínico que tem produzido uma crítica construtiva à noção de psicologias trouxe falas bastante assertivas e provocativas apresentando outras perspectivas sobre o pensar e agir profissional, tal qual o título de sua exposição: “Psicologias que pensem com os pés onde pisam”.
A trabalhadora da política de assistência social em Aracaju, há quase 15 anos, Deise Valadares, integrante da nova gestão do SINPSI, Sindicato de Psicologia de Sergipe, contou sobre as práticas profissionais e algumas reflexões sobre a realidade de quem atua no campo junto à população vulnerabilizada.
A professora Flávia Nascimento, docente da Universidade Tiradentes, atualmente na coordenação de estágios da Unit, falou sobre as experiências como docente, pesquisadora, gestora e trabalhadora de políticas públicas de saúde tanto em Sergipe quanto na Bahia. Segundo Drapala, a Profa. Flávia Nascimento sinalizou como urgente a mudança de paradigma das e dos estudantes de graduação no tangente às suas escolhas e para se atentarem e compromissarem com as principais fundamentações da prática profissional.
“A pesquisadora verificou que é cada vez perceptível a dificuldade das/os estudantes entenderem a relevância, de se colocarem à disposição das políticas públicas ainda na graduação. E, nós temos algumas hipóteses acerca disso como a dificuldade de visualizar a psicologia dentro desses lugares, de ver a psicologia sendo valorizada e muito bem remunerada nesses lugares. Percebemos a dificuldade de as estudantes e os estudantes entenderem que, não obstante na graduação não pensem em atuar na área, as políticas públicas sempre perpassarão o seu fazer, seja pelo atendimento nos serviços de usuárias e usuários de políticas públicas, seja porque, muitas vezes serão aliadas no acompanhamento de outras demandas dessas pessoas que atendemos em nossos cotidianos”, pondera.
A psicóloga Iza Moura, que representa o CRP19 na cadeira de presidenta do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher, revelou a experiência de ser uma representante da sociedade civil, psicóloga mulher preta retinta de candomblé em um órgão de controle social de dimensão tão significativa e apresentou as nuances desse trabalho que visa acompanhar e monitorar como as políticas públicas estão sendo realizadas. Destacou ser uma tarefa de grande responsabilidade ética, técnica e políticas associada à necessária representatividade desses marcadores sociais em interseccionalidade.
Já o psicólogo, Claudson Rodrigues, ex-Conselheiro do CRP19, expôs como é estar hoje gestor da pasta da política de assistência social no município de Graccho Cardoso, no médio Sertão Sergipano.
“Claudson compartilhou como é gerir uma política pública diante de tantas dificuldades, sejam materiais ou simbólicas além das estratégias de superação e criação de modos de fazer comprometidos. Em sua fala, destacou como é importante o trabalho em rede, da intersetorialidade, da multidisciplinaridade e o respeito para com as legislações, não só da própria política pública, mas especialmente da profissão”, salientou assessora técnica do CREPOP/SE.
Para o coordenador do CREPOP/CRP19, Conselheiro Mário Sílvio de Souza Fraga (CRP19/3000), coadunar esses marcos lógicos e legais é um grande desafio, mas também a grande salvaguarda. “Temos a pretensão de realizar outros eventos com instituições de ensino e com as secretarias nas quais tem políticas públicas com a presença da psicologia. Nessas atividades podemos fortalecer, potencializar as nossas relações institucionais dentro das universidades com os trabalhadoras e trabalhadores, com os órgãos de representação que são associados. Então, no nosso horizonte, a continuidade dessas relações está garantida”.